Caminhadas no Algarve, uma longa viagem
Os festivais de caminhadas no Algarve são o resultado de um longo caminho, percorrido nas últimas décadas, com diferentes protagonistas, para revelar um Algarve diferente do habitual e chamar a atenção para a sua riqueza natural e cultural. Vieram também abrir um caminho para construir uma região mais coesa, sustentável, harmoniosa e economicamente mais competitiva.
Até há pouco mais de 15 anos, caminhar no Algarve era algo estranho, bizarro até, para a maioria das pessoas da região, e dos visitantes. Exceção, diga-se, para alguns entusiastas bem informados ou experimentados na arte de explorar o território com recurso a cartas militares ou acesso a raros guias escritos; ou ainda para investigadores e escritores, como o Professor Manuel Viegas Guerreiro, que em 1959 escreveu “Uma Excursão à Serra do Algarve”, onde descreve uma viagem a pé, de dois dias entre o Barrocal e a Serra do Caldeirão, com detalhes tais que hoje poderia ser encarado como um verdadeiro guia de viagem pela região.
Contudo, as primeiras publicações sobre turismo de natureza no Algarve devem-se, sobretudo, à iniciativa de estrangeiros e remontam aos idos anos 80 ou 70 do século passado. Era, na altura, um nicho muito estrito daqueles que realmente vinham ao Algarve com o propósito de explorar a sua rica natureza.
Houve, porém, na região quem procurasse promover essa vertente tão interessante do turismo. A Associação Almargem, juntamente com a LPN – Liga para a Proteção da Natureza, foi uma das precursoras desse movimento e desde os anos 80 organizou – e ainda organiza – numerosas atividades para revelar um Algarve diferente e chamar a atenção para a sua grande riqueza cultural e natural e seu potencial nos segmentos do ecoturismo, turismo natureza ou o que quisermos chamar.
Foi a Almargem quem, já em finais dos anos 90, em parceria com os Algarve Walkers, iniciou o visionário projeto de criar uma via pedestre que cruzasse todo o Algarve, desde Alcoutim ao Cabo de S. Vicente, hoje amplamente conhecida como Via Algarviana.
Essa rota resultou de um vasto conhecimento de caminhos, percursos e trilhos que ambas associações acumularam no seu passado de organização de atividades no Algarve e foi, certamente, o primeiro grande momento de promoção da região enquanto destino de caminhadas. Veio mais tarde a Rota Vicentina, a Rota do Guadiana e muitos percursos circulares, alguns já existentes na altura, outros, entretanto instalados, perfazendo hoje bem mais de 2.000km de percursos sinalizados em toda a região.
A Região do Turismo do Algarve publicou o Guia de Percursos Pedestres do Algarve – já com várias reedições, dada a sua grande procura – e a Associação de Turismo do Algarve incluiu, na sua estratégia de promoção internacional, o Turismo de Natureza como segmento estratégico. Surgiram, também, numerosos clubes formais e informais de caminhadas e afins, várias empresas de animação turística e operadores internacionais especializados em atrair visitantes além-fronteiras.
Muito aconteceu desde o início dos anos 2000 e hoje podemos afirmar que o Algarve já não é visto de fora (nem de dentro) apenas como um destino de Sol e Mar. Há, felizmente, muito mais a descobrir neste retângulo a sul plantado além das suas belas praias ou dos seus campos de golfe.
Em 2013 surge o primeiro festival de caminhadas no Algarve, Festival de Caminhadas de Ameixial, e outros se seguiram perfazendo hoje um total de quatro. Um 5º vem a caminho, já no início de 2025. Estes eventos vieram coroar, em certa medida, o longo processo percorrido e com eles todo um território assumiu ainda mais protagonismo na diferenciação turística do Algarve e no combate à tão falada sazonalidade. Mas esses festivais fazem-se de caminhos e percursos, fundamentais para esta atividade, que importa manter e preservar. E com eles a história, a cultura e a natureza da região que entrelaçados numa atividade humana sustentável permitem ambicionar um Algarve mais coeso, harmonioso e economicamente mais competitivo.
É esse o caminho que queremos percorrer.
Autor – João Ministro (Cooperativa QRER, Proactivetur)
Fotografia - Vico Ughetto